Os sinos anunciam a saída da Procissão. Com os braços abertos, Nossa Senhora de Assunção, em frente ao porto de pesca, ao som das sereias e dos foguetes lançados das traineiras engalanadas, abençoa aqueles que no mar têm o seu ganha-pão, ou o seu leito de morte.
Muitos anos atrás saía também a Procissão. No ar, um vagido se ouviu, mais alguém tinha nascido. Pelas cangostas andou. No antigo mercado saltou para juntar mais uma peça ao presépio; uma ovelhinha, o Menino Jesus, a Nª Senhora, o pastor... enquanto seu avô colocava mais um par de solas e, a sua companheira de uma vida, deambulava de aldeia em aldeia vendendo o que o mar dava.
Com a sacola ao ombro e a sua lousa traçava, com pau de giz, as primeiras letras: B, A =BA.. Pela janela via o céu azul, o campo sem fim. A chuva, miudinha, caía durante semanas.
De calção lá ia para a praia onde, feito miúdo Adão, se atirava enquanto na «Boca-do-Lobo» o mar fazia um barulho dos "diabos" e, todo o cuidado era pouco não fosse alguém ser engolido por aquela "garganta" escancarada.
As traineiras ondulavam ao sabor das ondas e os barcos, na areia, aguardavam a chegada dos pescadores para mais uma ida ao mar. As mulheres olhavam para os seus "h'ómes" rezando com fé para que a faina corresse bem. "Ala-Arriba", gritavam as pescadeiras que, em conjunto com os homens, puxavam o barco com o pescado...
... que era logo ali dividido e comercializado na lota de pesca.
Correrias, brincadeiras, ora com umas fisgadas bem “amandadas”, ora brincando de cowboys e de índios, uns jogos de bola junto à Fortaleza e, o polícia, mesmo ali a multar pois não se podia jogar descalço, no tempo em que uma sardinha alimentava quase uma família.
O silvo de um barco atroou os ares, na amurada, as crianças viam o barco a desencostar do cais de embarque e a partir para o alto mar. No cais, lenços diziam adeus a quem partia...
... E, assim, se passaram horas, dias, anos!...
Tocam os sinos, os foguetes estalejam... Vai sair a Procissão!
Para a Poveira, minha mãe, um beijo do tamanho do mundo e desculpa ter-te feito "perder" a Festa da Assunção nesse ano!
Ala-Arriba! é uma expressão poveira que significa "força (para cima)".
Marius e a sua Bond Girl (passar "rato" na imagem)
Nunca pensei que era assim tão conhecido. Bastou dar um pequeno passo para lá da fronteira e o meu nome repercutiu de uma maneira que ainda hoje sou recordado, quiçá, com uma saudade tal que nem o tempo nem a distância fez esmorecer.
Será que foi isso ou foi quando, na esteira com a "dama", marius sentiu repenicar os sinos da aldeia mais próxima que ficava a bué quilómetros de distância?!...
- «Vou perguntar nela, se ainda me recorda ou se foi casos di momento, na hora!... Pôxa, mas cerveja estava quente, nem deu para arrefecer os corpo que é assim qui se faz, a gente apaga os fogo com os frio da cerveja, mas não!... cerveja de litro voou naquele capim, até pensava que tinha tido uma insulação».
Ô mariô, ginga aí, que dama já vem bamboleando o corpo, mesmo que tudo em volta seja marimbondo tu não queres saber. Ôi!... puxa no rebita…
Vamos no “Kussunguila” e, à noite, vamos na tabanca do Ti Januário em «Tando-Zinze», beber uma Nocal, comer uma “paracuca”, ver as estrelas que vida não espera,... nem esteira.
Meu nome é nome de mar e rio. Mar que vi, vejo e continuarei a ver, o Atlântico, rio, de seu nome Chiloango, nunca mais.
Ô Mariô…
O meu agradecimento ao amigo Kelbeaumec (na Bélgica), pelo envio da música