Terça-feira, 22 de Novembro de 2016

O fim do arco-íris

A noite fora chuvosa. Sabia que o trânsito seria infernal quando saísse. E assim foi. Longas filas, acidentes vários. Dentro do carro a passo de caracol ia avançando e o sono apertando. Os olhos teimavam em fechar. Estava difícil aguentar o pára-arranca sem adormecer.

- Amanhã n'O Fio da Meada, será a vez da historiadora Irene Pimentel - assim falava António Macedo na Antena 1.

Condutores com a esperteza saloia que define muitos portugueses, iam na faixa contrária e tentavam meter-se um pouco mais à frente para recuperar dois lugares na já longa fila de quilómetros.

Olho para o céu. Dois deslumbrantes arco-íris tingiam o cinzento do corcel de nuvens que cavalgavam no espaço, ora abrindo clareiras por onde o sol espreitava, ora grossas bátegas caíam em força sobre os carros dos cada vez mais nervosos motoristas.

Dois arco-íris? Lindo. Um deles longe, outro bem perto. A estrada divide-se. Sigo para a direita, mas de tão lento que dava para ver tudo em pormenor. Uma menina ao volante no telemóvel escrevia. Outros fumavam desesperados. Ia deambulando o meu olhar até que o parei num determinado local, onde o verde na berma predominava. As cores do arco-íris terminavam (ou começavam) ali. As sete cores translúcidas mergulhavam naquele verde. Fiquei abismado, nunca tal tinha visto. Olhei maravilhado como se dali saísse o pote de ouro e um duende tomando conta dele contra a ganância do Homem.

Foram segundos, foi um instante pois logo de seguida cai em força nova remessa de água e as cores desvaneceram.

All in all it's just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wal

Cantavam os Pink Floyd no cd que tinha colocado. E o "muro" à minha frente não andava.

Uns palitos nos olhos dariam jeito naquela altura. Sobe, desce, túnel, volta a descer. Mais há frente, bombeiros com a agulheta, lavam a estrada de três faixas confinadas numa só. Alguém por ali "voara" de encontro a um destino incerto.

Duas horas e meia depois chego . "Home sweet home" - diz-me o tapete à entrada.

Olho pela vidraça do quarto. Um outro arco-íris brilha intensamente. Mas não é o meu. Esse desfez-se nas brumas do tempo.

Fecho a persiana. Acomodo o corpo entre os lençóis e durmo o sono dos justos com um sorriso nos lábios. O meu arco-íris brilhava nele.


publicado por marius70 às 09:49
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Segunda-feira, 21 de Novembro de 2016

A Princesa da Prússia

Estava frio. Os meus quatro filhos ainda pequenos, dormiam em beliches. As raparigas de um lado, os gémeos do outro.

- Pai, está frio - diziam eles - enquanto puxavam as mantas para melhor se aquecerem.

Vou-vos contar uma história - disse-lhes eu.

As quatro cabecinhas voltaram-se na minha direção. O pai ia contar uma história. Não era todos os dias que isso acontecia.

Olhei-os e comecei a história. Era sobre a princesa da Prússia.

"A princesa da Prússia era uma menina muito mimada. Não fazia nada. Ficava zangada quando não lhe faziam as vontades e estava sempre enfastiada. Passava o dia de um lado para o outro dentro do palácio. Um dia resolveu sair do palácio. Tentaram demovê-la pois a neve caía e o frio apertava, mas nada conseguiram. A menina decidiu e tinha-se que se lhe fazer a vontade.

Apressaram-se em lhe arranjar uma carruagem com todos os confortos, aperaltaram-se os guardas e nos seus lindos trajes de cossacos saíram para uma volta até à floresta.

O tempo piorava, um vento gélido entrava pelas frinchas da carruagem e a princesa começou a sentir frio. Então ordenou aos guardas que lhe fizessem uma fogueira para se aquecer. Que remédio tiveram eles senão cumprir o desejo da sua augusta princesa.

Com os machados começaram a cortar os ramos que iam amontoando para fazerem a fogueira. Pouco a pouco foram retirando os casacos, as túnicas, ficando só em camisa. A princesa olhava espantada. Ela cheia de roupa e com frio, eles de camisa.

Saiu da carruagem e perguntou a razão porque estavam todos de camisa. Um deles estendeu-lhe o machado e disse-lhe a medo para ir cortando uns ramos. A princesa assim fez. Passado pouco tempo começou a sentir calor e soube a razão."

... e por aqui me fiquei.

Os quatro olharam-me como à espera de mais e então disse-lhes:

- Vocês têm frio porque não estão a fazer nada, se estivessem a cortar toros de madeira iriam sentir calor.

Tenho a impressão que a partir desse dia nunca mais quiseram ouvir-me contar mais histórias. Até hoje perdura essa da princesa da Prússia.


publicado por marius70 às 11:52
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Segunda-feira, 14 de Novembro de 2016

Superlua

14 de novembro de 2016

Máquina: Panasonic
Modelo: DMC-FZ72
Exposição: 1/125 sec
Exposição (EV+/-): 0 step
Abertura: f/5.9
ISO: 320
Dist.Focal: 215mm
Dist.Focal (35mm): 2400 mm



publicado por marius70 às 21:00
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