P’lo jardim vai o rei a passear
Levando pela mão a sua amada
Ouve-se a cachoeira a murmurar
E o lindo chilrear da passarada
Viram estátuas viram bancos
Viram lagos viram fontes
Viram anjos viram santos
Viram grifos aos montes
Neptuno com o seu tridente
Golfinhos em pedra tratada
Vai o rei p’lo terreiro sorridente
Abraçando a sua amada
Cavalos treinados e galopados
Músculos tensos e trementes
No picadeiro são treinados
Por homens viris e competentes
Sai dali o rei satisfeito
Cheirando o cabelo de sua amada
Param enlevados junto a um ribeiro
Que por baixo deles passava
Vai a mãozinha marota sem pejo
De encontro aos palpitantes seios
Arfa o peito aumenta o desejo
Unem as bocas em doces beijos
O local não é o mais indicado
Para sua realização plena
Olha o rei para todo o lado
Nessa manhã linda e amena
P’lo carreiro vai o rei
Por ervas e silvado adentro
Em prazeres destes não há lei
Só luxúria e amor no pensamento
Desaperta com frémito ardor
As calças caem duma assentada
Treme o corpo com vigor
Levanta a saia à sua amada
Estavam em puro deleito
Em frémitos ais de prazer
Corre o amor a preceito
Que lindo é de se ver
Mas de repente apareceu
Não se sabe d’onde, surgiu
Em galope um grande alazão
Saído da bruma como macaréu
Uma saia levantada ele viu
E um rei com as calças na mão.
06.01.2005